Os primórdios da Maçonaria no Brasil
Ao se falar em Maçonaria no Brasil, é necessário, inicialmente, esclarecer a distinção entre Maçonaria regular e Maçonaria não regular. A primeira deve estar ligada a uma obediência Nacional, ou seja, uma Grande Loja ou um Grande Oriente e obter reconhecimento pela Grande Loja Unida na Inglaterra. Entre as lojas irregulares encontram-se as lojas mistas (que é composta por homens e mulheres), ou são lojas fundadas por um grupo de maçons regulares, ou não, que se juntam para formar outras lojas, sem o reconhecimento (Regularização).
No Brasil a primeira Loja Maçônica foi fundada em 1797, na Bahia, mas esta não era uma Loja regularizada, seu nome era “Cavaleiros da Luz”. Muitas vezes encontramos, em livros sobre o assunto, que o “Aeropágo de Itambé” em 1798, foi a primeira Loja Maçônica do Brasil, o que não é verdade, pois o próprio Padre João Ribeiro, que pertencia ao “Areópago de Itambé”, teve que posteriormente ser iniciado em Lisboa, o que leva a crer que não existiam Lojas Regulares no Brasil [6] . O Areópago era na verdade um clube formado por maçons e não maçons e é um marco, sem dúvida, das organizações maçônicas no Brasil, ele foi fundado pelo ex-frade Carmelita Arruda Câmara, também médico pela Universidade de Montpellier na França, local onde havia nada mais, nada menos que 11 Lojas Maçônicas, das quais quatro constituídas com pessoas da Faculdade de Medicina, inclusive professores. Quando Arruda Câmara retornou para o Brasil, em 1796, instalou-se em Itambé, Pernambuco[7]. Formando assim o Areópago, um Clube que se discutia política, assuntos relevantes na Europa, na própria América, e por que não dizer no Brasil, já se falava, até mesmo, em Independência, influenciados pela a Independência Norte- Americana e pela Revolução Francesa.
Ao se fazer um paralelo entre a os primórdios da Maçonaria do Brasil e a dos movimentos emancipacionistas, cabe citar a Inconfidência Mineira, ocorrida em 1789, mesmo ano da Revolução Francesa e a conjuração Baiana em 1798. Há de fato dúvidas quanto a Joaquim José da Silva Xavier “O Tiradentes” ter sido ou não maçom. Inexiste fonte que o acuse de ser, mas nenhuma também nega tal informação, mesmo assim é inegável a sua participação na Inconfidência Mineira e a sua contribuição. O que é certo é que, naquele momento, não existiam lojas no Brasil e, caso houvesse alguma loja por aqui, não era regular. Faltam provas documentais que comprovem essas informações, não há prova de que havia Maçons Iniciados na Europa, com finalidades Iluministas e Liberais no Brasil, ainda Colônia, naquele exato período. Mas todos esses movimentos serviram de inspiração para rebeliões futuras para a emancipação do Brasil, e Tiradentes é o Mártir da Independência brasileira, sem sombras de dúvidas.
A primeira Loja Maçônica regular do Brasil documentada foi a Loja Reunião em 1801 no Rio de Janeiro. Essa Loja era filiada ao Grande Oriente da Îlle de France (Ilhas Mauricio). Anos mais tarde, o Grande Oriente Lusitano, com a finalidade de propagar a Maçonaria no Brasil, delega três Maçons totais direitos de fundarem Lojas Maçônicas no Rio de Janeiro. Surgiram, assim, as Lojas: Constância, Filantropia e a Reunião. A partir daí pode-se falar da existência de Lojas Maçônicas e da Maçonaria no Brasil, pois a História só pode servir-se de fatos reais e concretos, com análise de fontes.
No Século XIX surgiriam Lojas filiadas ao Grande Oriente Lusitano ou da França, pois ainda não havia uma obediência Maçônica no Brasil, o que viria acontecer anos mais tarde como veremos neste artigo, meses antes da proclamação da Independência do Brasil, foi fundado o Grande Oriente do Brasil. As Lojas estavam presentes principalmente no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco, com finalidades políticas, inclusive de proclamar a Independência do Brasil, de fato, o primeiro passo para a Independência Política seria a Independência econômica com a vinda da Família Real para o Brasil em 1808, assim Maçons se destacavam na corte, como Pedro Antônio de Noronha de Albuquerque, o marquês de Angeja, administrador colonial português, vice-rei do Brasil e da Índia Portuguesa; o Marechal do Exército e Governador das armas da corte e capitania do Rio de Janeiro; José Xavier Noronha de Albuquerque, todos pertencentes à Loja São João de Bragança no Rio de Janeiro. Padre Belchior; Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, irmão de José Bonifácio e Juiz de fora e Desembargador, pertenciam a loja Distintiva,que era uma Loja Maçônica com ideais repúblicanos e, logo, revolucionários para época. Joaquim Gonçalves Ledo era servidor público, 1º Escriturário da Contadoria do Arsenal de Guerra.
Esses Maçons tinham vida ativa dentro da organização estatal portuguesa, serviam ao Rei e defendiam os ideais de liberdade dentro das Lojas Maçônicas, entre muitos outros maçons e outras lojas, que não cabe aqui citar todos e todas, mas sim lembrar a sua importância grandiosa a Independência. De fato, a maior parte dos maçons encontrava-se entre funcionários públicos da Coroa, ou entre pessoas de forte influência, como padres, pessoas de posses, mas que defendiam o fim do regime colonial português. Como não se havia uma liberdade de imprensa, e não haviam partidos políticos, as Lojas Maçônicas era palco dessas discussões. Hipólito José da Costa lançou em 1808 o jornal “Correio Braziliense”, na Inglaterra, justamente pela falta de liberdade de imprensa. Como Maçom, Hipólito sabia muito bem da importância da emancipação política brasileira, e as Lojas Maçônicas acabavam propiciando a discussão política. Os Maçons se encontravam ainda em locais estratégicos, nas Igrejas, no controle do erário público, nas forças armadas, no comércio. Hipólito conheceria, em 1812, o comerciante Capixaba, Domingos José Martins, que foi iniciado na Maçonaria inglesa e anos mais tarde viria a ser o principal líder da Revolução Pernambucana de 1817.
O certo é que cada grupo defendia seus interesses, cada qual sabia o quanto era ruim pertencer politicamente a Portugal, onde o próprio “partido brasileiro", apoiado pela aristocracia rural do sudeste, queria a criação de uma monarquia dual, para preservar a autonomia administrativa e a liberdade de comércio, assim não precisariam pagar impostos reais a Lisboa, e teriam mais liberdade econômica.
Havia também, os Liberais Radicais liderados principalmente pelo Maçom Joaquim Gonçalves Ledo, que defendiam a emancipação total do Brasil, já falando em abolição da escravatura e proclamação da república. Esse último grupo tinha, principalmente, caráter ideológico, por isso mesmo recebiam esse nome. Cabe aqui explicar que a denominação partido político não é estrito ao sentido atual da expressão, e sim eram na verdade grupos políticos, até mesmo porque o Brasil era a Sede de uma monarquia absolutista, e não se havia liberdade política para a criação de partidos políticos como ocorre hoje. Esses grupos se sentiam protegidos dentro da Maçonaria, e seus membros se encontravam em pontos estratégicos da sociedade brasileira da época, tanto que a maioria de seus membros fazia parte de cargos na corte, ou nas principais fontes econômicas e políticas do Brasil, como já tratado anteriormente.
Os principais adversários que os liberais radicais, os brasileiros, a Maçonaria e dos que defendiam a emancipação política brasileira tinham era a própria Coroa portuguesa, os portugueses, liderados principalmente por comerciantes, e a aristocracia rural escravocrata. Eram contrários a emancipação pelo fato que uma possível separação política com Portugal traria grandes prejuízos aos seus negócios, não teriam privilégios na colônia, o partido português ganhou força principalmente após o retorno de D.João VI á Portugal. Nota-se aqui que em nenhum momento foi levantado o nome das classes pobres, ou menos favorecidas da população, ou seja, não houve participação popular nas emancipações econômica e política brasileira, o povo foi coadjuvante dos processos, onde o já citado Marechal do exército José Xavier Noronha de Albuquerque estava com certeza havia militares de patentes mais baixas junto, onde o Padre Belchior estava existiam fiéis, e assim segue, ou seja os coadjuvantes sempre estão ao redor dos protagonistas, e nunca a história pode negar suas participações, embora não possa sempre citá-los por insuficiência de dados, e também haviam os estudantes brasileiros na europa “arando” terreno para atuarem no Brasil rumo a Independência. Assim formaram-se as classes políticas brasileiras, após a chegada da família real portuguesa até a 1822, quando o Brasil se tornou de fato Independente como veremos ao longo do artigo.
Na data de 17 de junho de 1822, foi fundado o Grande Oriente do Brasil. A maçonaria do Brasil passou a ser uma potência e não mais vinculada ao Grande Oriente Lusitano, ou da Ille de França. Encontravam-se os Maçons reunidos no Rio de Janeiro em sua única Loja Regular, a Loja Comércio e Artes, conduzido pelo Capitão João Mendes Viana, que após ler os artigos da constituição do Grande Oriente do Brasil (na época chamada Brasílico), aclamaria José Bonifácio de Andrada e Silva como o Primeiro Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira, e o Primeiro Grande Vigilante [17] foi Joaquim Gonçalves Ledo, foram empossados os demais cargos dentro do Grande Oriente, as três primeiras Lojas instaladas foram: Comércio e Artes, Esperança de Niterói e União e Tranqüilidade, essa em homenagem ao príncipe D.Pedro I, em função ao “Dia do Fico”.
A data de fundação do Grande Oriente do Brasil é importante para a historiografia nacional, e para a Independência do Brasil, foi um dos momentos marcantes que antecedeu a Independência do Brasil, ocorrido no Estado brasileiro.
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