Reinventar o Brasil

Reinventar o Brasil
Vítor Andrade



Muito mais do que o samba, no futebol, o Brasil tem mais qualidades, mas o que fere infelizmente a nossa alma social, é estarmos órfãos de identidade, pergunto; Onde vamos parar?. Ao falarmos de Brasil, fora do Brasil as primeiras coisas que vêm na cabeça dos estrangeiros são samba, as praias, as mulheres, e futebol, o Brasil é só isso?

Há pouco tempo um auxiliar de serviços gerais do aeroporto de Brasília, encontrou uma mala com dólares e devolveu para o dono, ele foi homenageado, promovido, virou até propaganda de governo, acredito que ele realmente mereça, que realmente é uma atitude plausível, mas tem um problema ele não fez mais do que a sua obrigação, isso ele mesmo falou, nessas horas o brasileiro se sente orgulhoso, será que faríamos o mesmo?, será que esse funcionário teria a mesma visibilidade se esse fato não tivesse ocorrido com ele?. Qual a finalidade desse artigo? É mostrar justamente a nossa carência em relação aos heróis nacionais, em Cuba a figura de José Martí é considerado o principal herói nacional, assim como Simon Bolívar na Venezuela, George Washington nos Estados Unidos, às vezes nos lembramos de “Tiradentes”, onde inclusive ganhou até feriado nacional, mas será que nós abrimos a discussão do que foi a inconfidência mineira?Eram conjurados endividados, desesperados, que viam que a única solução seria se emancipar para verem-se livres das dívidas, Tiradentes com cabelos longos, com barbas longas, seria Tiradentes ou Jesus Cristo? É figura do messias, e a necessidade de um ídolo, por que Tiradentes não pode ter traços brasileiro?

Nossos heróis são Pelé e Airton Senna. Pelé em seu milésimo gol pediu para cuidar das criancinhas, não fez nada por elas a não ser negar a paternidade em um envolvimento que teve com uma mulher, ao qual se gerou uma filha que ele não quis registrá-la, Pele é um negro conhecido e reconhecido internacionalmente, o que fez pelo movimento negro?, Por políticas afirmativas para os negros? O nosso outro ídolo é fruto de um esporte que a Rede Globo enraizou nas manhãs de domingo, e que hoje os brasileiros vibram com as vitórias da Ferrari, da Honda entre outras, um esporte elitista, que serve para lavagem de dinheiro, não pode também tirar o mérito da mãe de Airton Senna que tem uma fundação de ajuda a pessoas carentes.

Nas escolas não comenta mais a respeito de nossos símbolos nacionais, a televisão também não comenta nada, quando é a data da abolição da escravatura? Dia da pátria? Da Bandeira?, a nossa independência ainda é lembrada por que é feriado nacional, assim como a proclamação da república, e o Zumbi dos Palmares quem foi?, a escola positivista ainda continua bem viva na nossa cabeça, ao avaliarmos a Independência do Brasil, comemoramos apenas o grito, mas e o contexto será que não importa?Porque a mídia não abre esse debate? A resposta é simples : O que isso muda em minha vida?, retruco eu : E o que o Big Brother muda?, ali vê-se um jogo de oportunistas, mulheres que depois posam nuas para revistas masculinas, outro se apóia no fato de ser homossexual para se promover, assim com outro que usou do fato de ser negro para tentar vencer o “Big Brother”, um “Realyt Show”, que você pode votar nos participantes, pela “web”, através também de mensagens “SMS”. Confesso que por alguns segundos achei que estava escrevendo em inglês, mas é isso que está incorporado em nosso dia-a-dia.

O brasileiro ainda não descobriu a força que tem, imagina se 70 milhões de pessoas que votam no Grandes Irmãos Brasil, se juntassem para lutar contra a fome, a pobreza, para um projeto de lei de iniciativa popular é necessário assinaturas de 1% do eleitorado brasileiro, em pelo menos 5 estados e não menos de 3 décimos em cada um deles, aqui já ficou complicado, números, porcentagens, mobilização, mas isso ocorre por falta de hábitos de ler, escrever, somar, subtrair. A mídia faz o que quer, o Papa veio ao Brasil foram transmitidas missas ao vivo, e por que quando o Dalai Lama veio não houve essa cobertura em massa? É por que a mídia quis assim, o “foguinho” um personagem de uma novela, negro, malandro levando a vida na malandragem, quis que os brasileiros homens vestissem camisetas cor-de-rosa, e a moda pegou, assim como o cabelo ridículo que o Ronaldo jogador de futebol fez na copa do mundo de 2002, lembram? Pois é também pegou, caso não se lembrem acessem o “Google imagens” que lá vocês verão.

Na verdade a globalização está aí, e temos que nos adaptar a ela, mas também podemos globalizar o Brasil para o mundo, por que não globalizamos o Baião do eterno cantador Luiz Gonzaga, Cartola, Pinxiguinha, o mundo precisa conhecer, as crianças também, feriados precisam ser discutidos, vejo em período de Páscoa, que as pessoas não comem carne, mas em compensação gastam fortunas em bacalhau, sendo assim prefiro comer carne, até onde sei páscoa é libertação e as pessoas estão pressas ao consumo de ovos de páscoa, assim como natal, ano novo, carnaval.

O Brasil é lindo pois até analfabeto vota, não seria mais bonito erradicar o analfabetismo? Não precisarmos de cotas para negros porque todos têm acesso a educação superior gratuita no país?, mas a elite não quer, a criança pobre estuda a vida inteira em escola pública, e quando termina o ensino médio, se quiser tem que pagar para ter acesso a educação superior, já a criança de classe média e alta, estuda a vida inteira em escola particular e quando termina o ensino médio, vai para Universidade pública, a grandeza é inversamente proporcional ou desproporcional. Esses debates não são feitos, mas a elite que discutir liberação da maconha, por exemplo, por que não se discute a liberação do arroz , do feijão, é um Brasil de contrastes.

O Brasil precisa se reinventado, e isso passa pela escola, mas para isso é necessário todo mundo ter acesso, é preciso professores comprometidos, que não façam greves apenas por que necessitam de salário, mas por que a escola precisa de infra-estrutura, isso é papel do Estado, e também da sociedade civil, Dom Helder Câmara dizia que quando falava da pobreza o chamavam de Cristão, mas quando denunciava as causas da pobreza o chamavam de comunista. O Brasil tem que ser reinventado quando não se jogar mais lixo no chão, quando a gente parar de financiar as escolas de samba, quando o troféu imprensa parar de dar prêmios ao Galvão Bueno, Arnaldo Jabour que só falam o que pensam, ou melhor falam o que as elites falam para as camadas mais pobres, e as camadas mais pobres absorvem, quando o brasileiro se ligar que o Bruno e Marrone cantam uma música onde uma filha é incentivada a mentir para os pais o nome da música é: Agenda do fim de semana, e depois os mesmo cantam Nossa Senhora do Brasil ao lado do Padre Marcelo Rossi.

A mulher melancia é conhecida no país de norte a sul, e a princesa Isabel, essa daqui alguns dias nem nos livros de história vai aparecer, isso é falta de valorização cultural, mas as novelas dão a cartilha de como educar os filhos, como proceder, a Coca Cola, a Nike, convocam até a seleção brasileira, que não é tão brasileira, na verdade poderíamos mudar de nome para seleção de nascidos no Brasil, pois 80% deles jogam fora há mais de 5 anos no Brasil, estamos perdendo e identidade, estamos perdendo nosso filhos, estamos perdendo nossas vidas, as grades e os muros cada vez mais altos,e o medo predomina, nos campos e nas cidades.

Reinventar o Brasil não é tarefa fácil, é preciso se fazer uma reforma política, educacional social, tributária, mas a maior reforma é a reforma moral, essa vem dos lares, essa vem de berço, seja rico ou seja pobre, seja no campo ou na cidade, ter valores ético e morais, não é necessário formação, Jesus era filho de carpinteiro, pobre,e se tornou líder e exemplo para o mundo, a reinvenção do Brasil está em cada um de nós brasileiros, sejam flamenguistas ou corintianos, negros, brancos, gays, católicos e protestantes, e sejamos protagonistas de nosso país.